15.10.2017 / Jornal do Brasil
Um dos festivais internacionais mais importantes do país acontece de 13 a 22 de outubro, no Rio. Além das aguardadas peças, leituras e processos que sempre compõem a programação do 'Tempo Festival', os curadores Bia Junqueira, Cesar Augusto e Márcia Dias brindam o público este ano com uma ocupação inédita da principal casa de espetáculos do Brasil: o Theatro Municipal do Rio de Janeiro que, desde sua inauguração em 1909, recebe balés, óperas e concertos musicais, tendo sido raras vezes palco de montagens teatrais.
O festival é patrocinado pela Petrobras, Governo Federal, Governo do Estado do Rio de Janeiro e Secretaria de Estado de Cultura.
Em sua oitava edição, o 'Tempo Festival' vai apresentar uma extensa programação no Theatro Municipal, durante três dias consecutivos: 13, 14 e 15 de outubro. Espaços como o Palco Principal – onde será encenada a estreia carioca de ‘A Tragédia e a Comédia Latino Americana’, de Felipe Hirsch com o grupo uruguaio Ultralíricos –, o Salão Nobre, a Sala Mário Tavares, o Salão Assyrio, o foyer e o camarim serão preenchidos com estreias, lançamentos literários, encontros e registros cênicos, que preenchem todo o primeiro fim de semana. “O Tempo Festival se apodera do Theatro Municipal e permite que ele se torne uma morada temporária para o teatro”, diz Márcia Dias.
Em 10 dias, o 'Tempo Festival' apresentará mais de 20 atrações do Brasil, Alemanha, Uruguai, África do Sul, Suíça e Holanda. De 16 a 22 de outubro, o coletivo Rimini Protokoll, de Berlim, encenará espetáculos dentro de diferentes apartamentos da cidade e, no último fim de semana, nos dias 20, 21 e 22, o Espaço Cultural Sérgio Porto – que representa a história da cena contemporânea, ambiente de estímulo à inovação – também ganhará uma ocupação para celebrar e reunir diferentes gerações em torno da ‘construção da cena’.
“Vamos apresentar programações muito importantes nessa edição, com grandes estreias brasileiras e internacionais, processos criativos em diversas fases de desenvolvimento e uma seleção diversa de gerações de criadores que vai desde a dramaturgia musical até espetáculos mais autorais e pessoais, passando pela História, principalmente com foco para a Revolução Russa”, diz Cesar Augusto. “O teatro é vivo, possui uma enorme capacidade de comunicação e reinvenção, conjuga passado, presente e futuro no Tempo presente”, complementa Bia Junqueira.
Em apartamentos pela cidade
‘Brasil em Casa - Home Visit Rio de Janeiro’, do premiadíssimo coletivo alemão Rimini Protokoll, será encenado de 16 a 22 de outubro, dentro de sete diferentes apartamentos de cariocas. O ponto de partida do espetáculo-jogo é o questionamento sobre o que é, afinal, a república. É uma coligação de estados, uma identidade cultural, uma forma de coabitação? Os diretores Helgard Haug, Stefan Kaegi e Daniel Wetzel aceitaram o desafio de fazer caber este conceito político na realidade concreta da sala de estar de uma casa particular, onde quinze pessoas comuns tomam parte de uma performance que entrelaça histórias pessoais com os mecanismos políticos do Brasil.
“O quanto o lugar, sua história e suas particularidades são ativos na apresentação de uma Obra? Convidar o público a vivenciar a criação não só através do conteúdo apresentado, mas da experiência no lugar onde ele é proposto. Além das ocupações em dois locais emblemáticos da vida cultural da cidade (Municipal e Sérgio Porto), ‘Brasil em Casa’ percorre o Festival através de casas privadas, uma ponte entre espaço público e privado ampliando a experiência teatral, a reflexão política sobre o real, num espetáculo-jogo, no qual o público faz parte da própria estrutura e desenvolvimento da Obra”, diz Bia Junqueira.
Cada performance é única e acontece em uma diferente residência. Aqui no Brasil o projeto, realizado em parceria com o Goethe-Institut, será realizado em apartamentos no Rio, e depois segue para Salvador e Caruaru. Com base em Berlim, o coletivo já conquistou prêmios como o Leão de Prata na 41ª Bienal de Veneza, em 2011, o prêmio de Excelência no 17º Japan Media Festival, em 2013, o Grande Prêmio de Teatro da Suíça, em 2015, entre outros.
No espaço cultural Sergio Porto
De 20 a 22 de outubro (sexta a domingo), o 'Tempo Festival' apresenta no Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto cinco processos criativos nacionais. Tudo com entrada franca. O local, que é um celeiro das novas produções, também receberá leituras, debates e lançamentos de livros.
Do pesquisador e diretor estreante na dramaturgia Caio Riscado, ‘Apatia Dinossauro’ é uma ficção científica que aborda de forma irônica a apatia nas relações humanas.
‘Aracy’, solo em construção, conta a história da avó da atriz Flávia Milioni, que se matou aos 26 anos de idade, em 1954. A peça propõe uma reflexão sobre o patriarcado e o machismo arraigados na sociedade e nas relações mais íntimas.
Inicialmente inspirada no livro Sono, do escritor japonês Haruki Murakami, ‘Cuidado! Animais na Pista’ tem atuação e idealização de Eliane Costa e direção de Rubens Camelo. Em uma narrativa surrealista que mistura suspense e humor, uma mulher deixa de dormir sem explicação aparente e passa por mudanças internas e externas.
Do coletivo artístico As Dramáticas, ‘Uma Ciranda Para Mulheres Rebeldes’ mostra fragmentos de relatos ficcionais criados a partir das experiências de mulheres que tiveram alguma relação com a Revolução Russa de outubro de 1917.
Em ‘Vim Assim que Soube’, montagem que reúne os atores Cris Larin e Renato Carrera, com direção do premiado Marco André Nunes, um doente em fase terminal resolve convocar sua melhor amiga, que já não via há muito tempo, para passar seus últimos dias de vida com ele. O convívio nesse período estabelece uma relação sufocante entre os personagens.
Dois lançamentos de livros da editora Cogobó acontecerão no Sérgio Porto: ‘Guanabara Canibal’, de Pedro Kosovski, sobre o que restou de registro da presença dos índios no Rio de Janeiro. Em 1567, a Batalha de Uruçumirim, liderada por Mem de Sá, exterminou as tribos indígenas que ali viviam. O texto de Kosovski – que foi montado pelo diretor Marco André Nunes na peça homônima – faz um resgate da história e revê o passado apontando questões urgentes para o presente. Em ‘Janis’, Diogo Liberano se inspira em situações vividas por Janis Joplin e, numa cronologia não linear, lança olhares sobre questões existenciais de uma das mais emblemáticas cantoras de todos os tempos, que morreu aos 27 anos, em 1970.
Inez Viana fará ao lado de Thomas Quillardet a leitura de ‘Última Peça´, texto seu sobre uma mulher sem memória que não se lembra do filho. Ao longo da história, que tem diferentes camadas narrativas, a peça adquire um formato inesperado, onde assuntos atuais se misturam a jogos alucinatórios.
O festival também promove um encontro com a equipe de curadoria que representará o Brasil na PQ'19 - Quadrienal de Praga 2019. Na ocasião, o processo da representação brasileira para a Mostra Nacional e Mostra dos Estudantes será compartilhado com artistas, cenógrafos, figurinistas, iluminadores, sound designers, visagistas, multimídias, diretores, atores, performers, educadores, pesquisadores, estudantes, além de instituições, centros e espaços culturais e outros profissionais da área.